Início » Blog » Quando o problema é emocional

Quando o problema é emocional

Ser diagnosticado com um problema psicológico é uma das piores coisas que pode acontecer a uma pessoa. Não necessariamente por ser mais difícil de tratar do que os outros, mas pelo preconceito e pelo desconhecimento do que são os ditos problemas emocionais ou psicológicos. O artigo de hoje é para ajudar os leitores a, de uma vez por todas, entenderem o que é um problema psicológico.

Têm pessoas não conseguem ficar em lugares com grande quantidade de gente, que têm dificuldade extrema em suportar críticas, que são tímidas ao extremo, que não se adaptam às regras sociais, que são dependentes de drogas, que perderam o prazer de viver, que sentem um medo muito grande sem justificativa, que não conseguem ficar sozinha, que broxam, que ejaculam antes do que gostariam, que não tem mais vontade de fazer sexo…

Todas estas situações que citei tem algo em comum, elas podem ser consideradas problemas psicológicos.

Ser diagnosticado com um problema psicológico muitas vezes leva a pessoa a pensar que tem personalidade fraca, que não tem força de vontade, que é frágil, e isso, por sua vez, gera sentimentos de insegurança, medo ou mesmo disforia. Além de tudo, é muito comum ouvir algumas das frases abaixo, as vezes até por profissionais da saúde:

“não é nada, é psicológico”, “você não tem nada, é emocional”, “é tudo coisa da sua cabeça”.

E de médico e psicólogo todo mundo tem um pouco, então vem os famosos conselhos “você só precisa tirar isso da sua cabeça”, “larga de frescura, é só algo psicológico” e a mais famosa “é só ter força de vontade”.

Divisão Mente – Corpo

Predomina hoje na medicina uma visão dicotômica da compreensão do ser humano dividida em mente e corpo. O médico valoriza mais as variáveis fisiológicas em detrimento das psicológicas, como se todas as doenças pudessem se resolvidas curando (com remédios) ou alterando (com cirurgias) a fisiologia.

Só que não é bem assim que as coisas acontecem. Dê uma olhada na imagem abaixo:

Divisão corpo/mente

A área cinza do retângulo representa o componente orgânico das doenças, e a branca o psicológico. As doenças ou problemas que ficam a esquerda da linha 1 são os que são essencialmente orgânicas, como por exemplo uma infecção bacteriana. Já os problemas ocorridos a direita da linha 2 são os fundamentalmente psicológicos, como por exemplo a ejaculação precoce. Mesmo as doenças orgânicas apresentam um componente psicológico, e as psicológicas uma base orgânica. A separação entre o que é psicogênico e o que é orgânico é errada, todas doenças são, em maior ou menor grau, psicológicas e orgânicas.

Problemas psicogênicos

A palavra psicogênico significa de origem psicológica. Um problema pode ser considerado psicológico se atender a alguns critérios: alterar o comportamento a ponto de trazer sofrimento intenso, impactar ou alterar a rotina de vida, afetar o juízo crítico da realidade e as emoções a ponto de impactar a própria vida, prejudicar os relacionamentos interpessoais ou o trabalho. Ou seja, tudo que altera suas emoções, pensamentos e comportamentos a ponto de trazer sofrimento ou afetar negativamente sua vida pode ser considerado psicológico.

Exemplo: a pessoa pegou uma infecção bacteriana no coração, começa a pensar que pode morrer e ter medo disso e, por não conseguir pensar em outra coisa, começa a ter problemas no serviço. Além do problema fisiológico da infecção, ele tem um problema emocional que é lidar com a possibilidade de morrer.

Ta Luiz, mas este é um caso extremo, me de outro exemplo não tão extremo.

O cara consegue conquistar uma gata, aquela garota nota 9 e 1/2, e vai transar com ela pela primeira vez. Caso ele comece a ter pensamentos do tipo “ela é d+ pra mim”, “será que vou dar conta de tudo isso?” ou “e se eu broxar?”, estes pensamentos causam insegurança e deixa o cara ansioso. E, para o homem, sexo e ansiedade são duas coisas que não combinam. O que acontece? O cara broxa.

Mas Luiz, neste caso o que levou ele a broxar foi o medo de não dar conta, isso não é problema psicológico.

É sim, meu amigo, é sim. Eu descrevi operacionalmente o caso, aí fica fácil perceber o que causou o problema, mas quando a pessoa está na situação muitas vezes ela nem percebe que esses pensamentos, quando viu já broxou. Ou ainda até percebe, mas não consegue modificar. É ai que entra o trabalho de um psicólogo.

Como surgem os problemas psicológicos

Muitas coisas podem levar a ter um problema psicológico, mas basicamente é uma interação entre fatores ambientais, psicológicos e fisiológicos. Fatores ambientais é tudo que está acontecendo no ambiente, as interações sociais, os estímulos visuais, auditivos, cenestésicos, enfim, é tudo que está fora do corpo. Fatores fisiológicos é o que acontece na parte biológica do corpo. Os fatores psicológicos são sentimentos, desejos, expectativas, medos, interpretações, traumas, aprendizagens, condicionamentos entre outros.

Durante a vida, todos estes fatores (ambientais, psicológicos e fisiológicos) vão construindo o que chamamos de personalidade. Personalidade pode ser entendida como um padrão estável de comportamento ao longo do tempo, é o jeito da pessoa ser e interagir com o mundo. E, quando a personalidade que a pessoa desenvolveu não possui recursos para enfrentar ou lidar com determinadas situações, ela começa a sofrer e pode ter problemas psicológicos.

Se for para simplificar, os problemas psicológicos surgem quando a pessoa não tem repertório comportamental para lidar com determinadas situações em seu ambiente atual.

Então é tudo uma questão de aprender a lidar com o problema Luiz?

Sim, e por isso que as pessoas dão aqueles conselhos que citei no começo do texto. Todavia, não é tão simples de aprender a lidar com um problema, e quando a pessoa não consegue, surge o sofrimento e o impacto na vida.

E por qual motivo a pessoa pode não conseguir a lidar com o problema?

Tem um monte de motivos, entre eles é possível destacar: vai contra os valores da pessoa, traumas emocionais não permitem que ela adquira o repertório comportamental adequado, ela não sabe a maneira certa de lidar com o problema, ela têm ganhos secundários por estar daquele jeito e não consegue perceber isso, os pensamentos e sentimentos ou a personalidade da pessoa a impede de aprender, e por ai vai. Por isso digo que não é simplesmente falta de força de vontade, na maioria dos casos a pessoa tem vontade de mudar, mas outros fatores não permitem.

O papel do psicólogo

Eu já escrevi sobre quando procurar um psicólogo, mas neste artigo parece ter ficado bem claro como que o profissional realiza seu trabalho. A nossa função é entender quais são os fatores psicológicos, fisiológicos e ambientais que estão causando o problema, avaliar os recursos (repertório comportamental) que a pessoa tem para lidar com aquilo, descobrir o que impede que ela não resolva a situação, e ajudá-la a entender o que acontece e adquirir o repertório faltante, ou diminuir o comportamento em excesso.

Eu resumi de um jeito que parece bem simples o que deve ser feito, mas não é. O profissional não vai dar conselhos, ele vai fornecer orientações baseadas em teorias científicas. O psicólogo estudou um conjunto de teorias sobre o comportamento que foram formuladas a partir de pesquisas científicas e prática clínica; estas permitem entender o “por que as pessoas fazem o que fazem” e “como fazer com que elas façam diferente”, sempre buscando melhorar a qualidade de vida.

Então, por favor, quando uma pessoa estiver com um problema psicológico não diga “não é nada, vai passar” ou que “é frescura”, oriente a pessoa a procurar um profissional especializado que vai ajudá-la a se sentir e viver melhor.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *